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Transporte Sentimental



Domingo, 17.05.15

palestina - falta-me a imagem da chave mas tenho a da terra

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Devo a José Goulão uma imagem espantosa no Facebook e uma história que partilhou com Maria do Céu Guerra, a de um homem velho, patriarca de uma família de palestinianos que um dia, depois de falar com os portuguese, se afastou do grupo para aparecer com uma chave, a velha chave com que abria a sua casa. O seu único sonho depois do pesadelo de à força de armas o obrigarem a fugir da sua casa é poder voltar a abrir a sua porta da sua casa na sua aldeia. Ninguém pode viver sem uma aldeia e sem uma avó. Eu sei, todos sabemos. É mesmo impossível porque a aldeia dá a geografia (a outra e a interior) e a avó a base sentimental. Sem a geografia e sem a história nós não somos nada. Foi isso que desde o primeiro dia as organizações terroristas do Estado de Israel procuram implantar desde 1948. Der Iassine foi o começo, logo de madrugada. Hoje existe lá um aeroporto mas as memórias não perecem mesmo com as casas destruídas, as velhas chaves continuam à espera de poder abrir as portas de todas as casas de todas as aldeias. Os criminosos vestem-se à moda de Paris mas os crimes deles não prescrevem, as vítimas nunca deixam de reclamar mesmo no silêncio. Os nomes dos que forma mortos em Der Iassine e em todos os outros lugares, os que foram atirados ao poços, os que gritam por justiça mesmo que ninguém ou quase ninguém os oiça. O gueto de Varsóvia é agora na Faixa de Gaza, a operação «chumbo fundido» tem outras tecnologias mas o fundo é o mesmo – a morte do Outro. Os criminosos apenas mudam de uniforme e a ONU não sabe de nada. Uma nota pessoal: o meu livro «Mansões abandonadas» editado no Brasil pela «Escrituras Editora» de São Paulo em 2007 tem na capa uma imagem dos peixes de São Pedro que são os peixes hoje pescados no Lago de Tiberíades. O autor da capa adivinhou. --

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por José do Carmo Francisco às 17:21

Domingo, 17.05.15

«parem as máquinas!» de gonçalo pereira rosa

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Com o subtítulo de «Glórias, peripécias e embustes do jornalismo português», este livro de Gonçalo Pereira Rosa (n.1975) vem ocupar um espaço de reflexão sobre o nosso jornalismo. A partir do Blog «Ecosfera» o autor (jornalista desde 1994 no «Sporting») revisita casos da história do jornalismo. A piada afirma ser o jornalista o único que leva os seus erros para a primeira página. O médico enterra os erros, o advogado remete-os para a prisão; só o jornalista os revela. Vitorino Nemésio referiu esta profissão como «o pão que o Diabo amassou». O subtítulo é certeiro. São três os caminhos do jornalismo: pouca glória, muitas peripécias e alguns embustes. Há pouco tempo um indivíduo que deixava nas secretárias dos redactores do jornal do Sporting as soluções milagrosas para o Clube se apresentou como perito do Banco Mundial e da ONU e foi ouvido nos jornais. Houve quem acreditasse pois a boa-fé é infinita. Numa nota de leitura apenas ficamos nos casos referidos ao longo de 254 páginas: 1883 Pinheiro Chagas e Magalhães Lima num duelo, 1895 José Fernandes de Aguiar o lobisomen de Paranhos, 1908 Luís Derouet em «O Mundo» noticia o funeral dos regicidas, 1910 José Maria da Silva na Ericeira fotografa a fuga da família real, 1914 «O Mundo» dá como eleito um papa português a partir de um telegrama forjado, 1918 Reinaldo Ferreira, o Repórter X, cria o falso crime da Rua dos Fanqueiros, 1919 Acúrsio Pereira acredita numa criança e procura uma quadrilha de bandidos, 1930 Ferreira de Castro em Dublin fala com Eamon de Valera, 1932 «Notícias Ilustrado» apresenta lado a lado nos Painéis de São Vicente Estevam Afonso e Salazar, 1933 o americano Lindbergh desceu o hidrovião no Rio Minho onde três jornalistas portugueses e um fotógrafo o vão ouvir, 1935 Félix Correia e Armando Boaventura vão a Berlim mas a única pergunta que fazem a Hitler é sobre a sua assinatura numa fotografia, 1956 Urbano Tavares Rodrigues no Egipto com Nasser e a crise do Suez, 1957/8 Urbano Carrasco do «Diário Popular» leva uma bandeira portuguesa para a nova ilha formada pela erupção dos Capelinhos, 1961 Três jornalistas na queda da Índia dita portuguesa, 1964 Aurélio Márcio do «Diário Popular» descobre um homem que fuzilou Mata-Hari, 1965 O Prémio da Sociedade Portuguesa de Escritores a Luandino Vieira leva à suspensão por 6 meses do «Jornal do Fundão», 1968 Foi por um triz que «A Capital» não publicou a ementa do director como se fosse de Salazar na Cruz Vermelha, 1970 O falso sábio Alphonse Peyradon é assassinado nas Belas Artes por João Esteves da Silva perante Fernando Namora, Natália Correa, José Palla e Carmo, Vasco Vieira de Almeida, Francisco Keil do Amaral, Raul Hestnes Ferreira , Vera Lagoa e não só. 1971 «O Século» foi apanhado pois os árabes eram portugueses e nada tinham a ver com petróleo, um deles era afilhado de Marcelo Caetano; José Mensurado e Roby Amorim foram vítimas, 1972 Eduardo Gageiro faz as fotos do embarque dos reféns do atentado dos Jogos Olímpicos, 1981 «O Tempo» de Nuno Rocha noticia uma reunião do Conselho da Revolução que não se realizou, 1991 José Goulão e Carneiro Jacinto entrevistam Yasser Arafat para a TSF. A capa da TIME com Salazar ao lado de uma maçã com bicho em 1946 mostra como as pessoas em Portugal estão «empobrecidas, confusas e assustadas». (Edição: Parsifal, Prefácio: Baptista-Bastos, Capa: Pedro Gil, Paginação: Augusto Nunes, Revisão: Ana Mendes) --

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por José do Carmo Francisco às 10:19


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