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Transporte Sentimental



Quarta-feira, 13.05.15

«um marinheiro do século xv - pedro rainho, pescador da ericeira» de margarida gama de oliveira

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O nosso Mundo é uma terrível máquina de esquecimento. As notícias de hoje matam as de ontem, nada existe de mais antigo do que o jornal do dia anterior. Em 1978 quando eu comecei a colaborar no «Diário Popular» ainda se chamava «historiador do quotidiano» ao jornalista, as notícias eram compostas a chumbo, os chefes de redacção usavam umas batas azuis por causa da tinta e do manuseio dos granéis nas mesas de mármore. Tudo isto para dizer que o trabalho de Margarida Gama de Oliveira é também uma batalha contra o esquecimento, revelando hoje (2015) um trabalho da dupla Óscar Leal e Cyríaco da Nóbrega publicando em folhetim num jornal de 1901. O título desse jornal semanário era «Sul do Tejo» e foi publicado no Seixal entre 1901 e 1902. Descobrir, revelar e organizar uma narrativa dramática sobre o marinheiro da Ericeira que foi à Índia com Vasco da Gama e de lá voltou como segundo piloto, tal é o mérito deste trabalho hoje lançado para o Mundo hostil a tudo o que é memória permanecida. Há no gesto da organizadora deste volume um toque de altruísmo pioneiro. Oxalá possa ser este livro bem recompensado com a atenção pública que merece. Se alguma coisa eu aprendi e guardei comigo a partir de 1978 quando fui aceite como colaborador do «Diário Popular» pelo saudoso Jacinto Baptista, foi essa ideia de que na chamada vida literária tudo é efémero e sujeito à erosão dos dias. Com esse homem sábio, discreto e incansável aprendi também que o cancro dos livros está no sub-mundo da distribuição porque os autores, os editores e os livreiros são os que menos ganham nas voltas que o livro dá entre a escrita, a impressão e o balcão da livraria. Mas os distribuidores, esses ficam com a parte leonina e não os escrevem nem os editam nem os vendem. Mas voltando à ideia do efémero basta pensar que no tempo de Cesário Verde o poeta mais conhecido era Cláudio Nunes, no tempo de Eça de Queirós o mais famoso escritor era Pinheiro Chagas e no tempo de Camilo Pessanha o poeta mais popular era Augusto Gil. Esta é uma verdade que todos conhecemos e ninguém pode ignorar. Basta ler os jornais dessas épocas para se perceber a grande diferença entre ser conhecido e ser importante. Conhecido é quem anda nas bocas do Mundo, importante é quem acrescenta algo de valioso à Literatura (neste caso) e por isso fica na História com um lugar marcado. E apenas seu. Não comparo realidades mas o gesto de recuperar uma narrativa perdida no esquecimento e dar a conhecer, mais de cem anos passados, o conteúdo e a forma dessa aventura, coloca Margarida Gama de Oliveira num patamar de apreço pelo seu trabalho e pelo seu gesto. Pode discordar-se da manutenção de algumas palavras arcaicas mas o importante está feito: resgatar, do nosso tão português esquecimento, uma narrativa do século passado sobre a aventura no século XV de um certo Pedro Rainho, pescador da Ericeira. (Editora: Chiado Editora, Capa: Vasco Lopes) --

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por José do Carmo Francisco às 20:50

Quarta-feira, 13.05.15

«melo antunes» de maria inácia rezola

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Quase 40 anos depois do «25 de Abril» a múltipla figura de Melo Antunes (1933-1999) surge neste livro de 774 páginas de texto mais 17 de fontes, bibliografia e índices. O prefácio de António Lobo Antunes começa com uma afirmação («Admirava a coragem, a rectidão, a honestidade») e prova que as diferenças servem para unir: «Ele queria mudar a sociedade; eu, mais modesto, apenas queria mudar o mundo». Também para clarificar: «Ao contrário do que muitos supõem, o Ernesto não era um civil fardado: era profundamente militar». Sendo este livro uma biografia pessoal acaba por transformar-se na biografia do processo político do nosso país (25 de Abril, 28 de Setembro, 11 de Março, 25 de Novembro) sem esquecer o programa do MFA e o Plano Económico de Melo Antunes, Silva Lopes, Rui Vilar e Victor Constâncio. Por aqui passam factos que não chegaram a acontecer (Governo Fabião) e outros que aconteceram mesmo como o PRD e a sua grande actividade na UNESCO. Afirmou António Tabucchi: «Sem Melo Antunes Portugal continuaria a ser a sinistra prisão salazarista que conheci em 65 ou uma pequena Coreia como pretendiam os estalinistas em 75, com o seu inevitável escritor de regime».
Melo Antunes sonhou sempre à sua maneira com um mundo mais justo: «Marxista de formação, sonhou com fórmulas mais avançadas de democracia. Mas foi a voz da moderação nos momentos mais radicai da Revolução e da consolidação da democracia portuguesa». Em relação às liberdades, Melo Antunes advertiu: «não devem ser só reservadas aos proletários mas extensivas a todas as camadas da população». E deixou um aviso com data de 1976 que se adapta aos tempos de hoje: «Nós não tememos o juízo da História; podemos, por isso, desprezar a mediocridade dos fantoches do momento, que tão depressa passaram da prudência dos bastidores para o arrojo da ribalta.» (Editora: Âncora, Prefácio. António Lobo Antunes, Capa: Sofia Lima) --

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por José do Carmo Francisco às 19:10


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