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Transporte Sentimental



Terça-feira, 31.03.15

a tragédia e a colónia sem acento, a sova que não é soba e a vila franca não de xira

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Sou o assinante nº 186 da editora de Luiz Pacheco, com tudo o que isto significou e significa hoje em 2015. Sou o que sou, tenho um percurso como jornalista e crítico (desde 1978) e como poeta (desde 1981) que se explica por si mesmo. Ouvi demasiadas vezes a pergunta «Que queres tu daqui?» e ainda aqui estou pronto para o que der e vier. Tenho poemas publicados em Inglaterra, em Espanha e no Brasil. Sou o contrário do espírito fechado e nacionalista, não me espanta que venham pessoas de fora para estudar os livros dos poetas e dos romancistas de Portugal. «Na Cultura não há compartimentos estanques» - isso aprendi eu com Jacinto Baptista no jornal «Diário Popular» em 1978 e mais tarde em «O Ponto». No caso concreto da Revista Orpheu não me repugna ver os estrangeiros a reflectirem, cem anos depois, as coordenadas de uma revista que foi muito mais do que um magazine de letras e artes – foi um terramoto. O que me fez ficar zangado foi ver como numa edição recente sobre os cem anos do Orpheu (Editora Tinta da China) aparece na página 319 um texto que refere «apesar da soba de Gaspar Simões» numa carta de Armando Côrtes-Rodrigues a Eduíno de Jesus. Ora soba significa régulo africano e sova significa tunda ou coça. Sem esquecer colónia sem acento, tragedia por tragédia, escola por liceu e Vila Franca por Vila Franca do Campo. E também uma estranha mistura de realidade com ficção na página 324 do livro com uma referência à Escócia, país onde o pai de Armando Côrtes-Rodrigues estudou Medicina e «país onde também estudara Álvaro de Campos, um outro órfão». Essa não! – gritaria logo o Luiz Pacheco. Pela minha parte desejo que a tese de Anabela Almeida «As constantes de Orpheu na obra de Côrtes-Rodrigues» de Março de 2014 sai depressa. Quanto mais depressa melhor. --

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por José do Carmo Francisco às 17:06

Segunda-feira, 30.03.15

as facturas, as mensagens e um certo tempo português

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A história é insólita mas só podia ter acontecido agora, neste tempo português em que nas empresas não há pessoas que escrevam cartas. Vejamos. No dia 16-2-2015 uma empresa de telecomunicações emitiu uma factura em meu nome e marcou como data de pagamento 10-3-2015. Claro que na manhã desse dia paguei o valor da factura mas (percebi mais tarde) a empresa já tinha emitido uma outra factura com data de 10-3-2015 com os elementos relativos a 7-3-2015. Por tudo isso consideraram o valor «pago» como «não pago» e pediram que pagasse o dobro em 31-3-2015 como espero pagar mas só pelo saldo. Então alguém se lembrou de me enviar em 12-3-2015 uma mensagem SMS confirmando o recebimento do valor em causa no dia 10-3-2015 (conforme indicado na factura de 16-2-2015) mas sem nunca referirem o facto de a tal factura (do dobro) ter sido emitida em 10-3-2015 ignorando o pagamento feito nessa manhã. Ora eu aprendi em 1966, quando comecei a trabalhar, que a categoria da emenda (ou da resposta) tem de ser igual à categoria do lapso (ou da pergunta). Assim sendo, se descobriram em 12-3-2015 que a factura de 10-3-2015 não inclui o pagamento feito nessa manhã no apuramento das contas do cliente, deveriam ter-me enviado uma carta ou uma factura nova anulando a anterior. Nunca um SMS que ainda por cima apela a que eu pague depressa o valor em falta quando não existia (nem existe neste momento) qualquer valor em falta no dia 12-3-2015, data do SMS. Com a mensagem SMS estragaram tudo e meteram os pés pelas mãos, Ao ponto de me pedirem para pagar pelo Multibanco o dito «valor em falta» quando a data do vencimento da factura é 31-3-2015. Enfim não há pachorra para tanta confusão mas esta é a gente que temos nas empresas que aí estão. --

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por José do Carmo Francisco às 17:24

Domingo, 29.03.15

«ilha de jasmim» de luís filipe maçarico

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Luís Filipe Maçarico (n.1952) mantém neste recente trabalho de 28 páginas uma dupla inscrição (Natureza e Cultura) que tem permanecido desde os seus primeiros quatro livros: «Da água e do vento» (1991), «Mais perto da terra» (1992), «A Essência» (1993) e «Lisboa, asas de água» (1994). Entre 1991 e 2007 o autor viajou até à Tunísia por catorze vezes e os poemas deste livro são baseados nas memórias desse tempo passado na Ilha de Jerba. Essa paisagem povoada dá origem a um diálogo interior entre o poeta e a sua sombra: «Reconhecerás o aroma das / especiarias nos mercados / plenos de zumbidos. / O tempo eternizado num olhar / numa palavra / dolente, cantada / sagrada.» Surge aqui uma relação directa entre a palavra da oração e a palavra do poema; ambas são sagradas pois ambas ligam de novo dois mundos separados pela morte. Em «As redes de Atef», poema da página 13, se regista o percurso da Poesia e da Geografia: «São ancestrais os gestos / do pescador da ilha / de jasmim. E o mar / guarda ainda / a mesma esmeralda / que Ulisses não pôde levar… / Bebo chá de menta / aquecido numas brasinhas / e escuto as vagas onde / as redes de Atef / se enleiam nuns versos / de Garrett.» A dupla inscrição é permanente neste livro. Vejamos dois exemplos. A página 16 integra o poema «O alfaiate»: «Sorriu, quando lhe disse / que enquanto for vivo e / à ilha torne, o seu saber / procurarei. / Saí com três calaças / desenhadas e cozidas / pela serenidade / das suas mãos habilidosas / e entrei no sol das ruas / com a luz das palavras fraternas». A página 9 regista uma memória poética de Sebastião da Gama no poema «Sonhador sem asas» que lembra o poema do rouxinol cantado por Francisco Fanhais: «Roubaram os remos / ao pescador / pescador sem remos / não pode remar / roubaram os remos / ao Senhor do Mar / Sonhador sem asas / não pode voar!»
Toda a literatura é uma homenagem à literatura. Como este livro de Luís Filipe Maçarico confirma. (Produção: GM Oficina de Artes Gráficas, Grafismo: Manuela Gonçalves, Notas de leitura: Maria Alberta Menéres, Albano Martins, Eugénio de Andrade, Fernando Paulouro Neves e Isabel Mendes Ferreira) --

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por José do Carmo Francisco às 13:30

Sábado, 28.03.15

«cronologia da monarquia portuguesa» de artur teodoro matos, joão paulo oliveira costa e roberto carneiro

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Depois de, em 1994, o Círculo de Leitores ter publicado «História de Portugal em datas» coordenado por António Simões Rodrigues, este livro de 490 páginas não vem substituir o anterior mas sim completá-lo. Trata-se de uma cronologia da vida portuguesa entre 1109 e 1910; o mesmo é dizer desde o nascimento de D. Afonso Henriques até à deposição de D. Manuel II. O ponto de partida são as 34 biografias dos reis de Portugal editadas pelo Círculo de Leitores (2005-2006-2007) mas o inventário dos acontecimentos não se limita à vida dos soberanos e sua família mas também envolve a conjuntura internacional de cada reinado e a vida política, social, económica e cultural das províncias portuguesas de Além-mar a partir de 1434 com Gil Eanes a passar nesse ano o Cabo Bojador a mando do Infante D. Henrique. Livro para consulta mas não para ler como um romance, esta cronologia de vida dos reis de Portugal vem ocupar nas nossas estantes um lugar único que, sendo seu, não é de mais nenhum livro. (Editora: Círculo de Leitores, Design da sobrecapa: Carlos Correia) --

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por José do Carmo Francisco às 15:46

Sexta-feira, 27.03.15

«os caminhos de orpheu» na biblioteca nacional até 20-6-2015

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Cem anos passam num instante e talvez por isso o título da «mostra» ao lado da exposição (digamos) principal seja o bem pessoano título «Orpheu acabou, Orpheu continua». De facto 1915 foi um ano em cheio para a literatura portuguesa porque, com o início da I Guerra Mundial, um grupo de artistas portugueses residentes em Paris vieram à pressa para Lisboa: Mário de Sá-Carneiro, José Pacheco e Santa Rita Pintor. Em 1915 Luís de Montalvor regressou do Rio de Janeiro com o projecto de revista literária Orpheu. Como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro tinham ideias de publicar revistas com o nome de Lusitânia ou de Europa, os esforços conjugaram-se e, com a ligação de Luís de Montalvor ao Brasil, foi possível juntar como director adjunto o poeta Ronald de Carvalho. Saíram dois números da Revista Orpheu em 1915 e a literatura portuguesa nunca mais foi a mesma mas as mortes de Mário de Sá-Carneiro, Santa Rita Pintor, Amadeo de Souza Cardoso e Ângelo de Lima entre 1916 e 1921 vieram desfalcar os colaboradores e obstar á continuação do projecto Orpheu. Outras revistas se seguiram como Exílio (1916), Centauro (1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922), Athena (1924), Presença (1927) ou Sudoeste (1935). Segundo o catálogo da exposição (cujo comissário é Richard Zenith) «A relativa exiguidade do espaço cultural português e o seu maior conservadorismo foram decisivos para que Orpheu causasse uma perturbação semelhante a um terramoto que sacudiu a mentalidade, levando à queda de valores estéticos consagrados, em grande parte devida à potência e originalidade da dupla força impulsionadora deste movimento: Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.» Nota final – a mostra «Orpheu acabou, Orpheu continua» foi organizada por Carla Datia e Luís Augusto Costa Dias. --

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por José do Carmo Francisco às 15:16

Sexta-feira, 27.03.15

fernando grade, «o bairro cercado» e outras palavras

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Depois de referências a Luiz Pacheco e a Herberto Helder, o meu texto de hoje passa por um livro de crónicas de Fernando Grade, outro desalinhado, tão desalinhado que em resposta ao filho Pedro Gonçalo sobre ídolos literários da sua vida ele refere Camilo Pessanha, Cesário Verde, Bocage, Mário de Sá-Carneiro e Ruy Belo. Sou um apaixonado da crónica e fiz parte do júri do primeiro prémio da dita que se realizou em Portugal na Associação Portuguesa de Escritores e na Câmara Municipal de Beja. Fui jurado com Maria Regina Louro e José Manuel Cortez e o vencedor foi um livro de Maria Judite de Carvalho. Este livro «O Bairro Cercado» (Universitária Editora) de onde retiro a fotografia de Fernando Grade inclui uma crónica exemplar – «Receita para uma crónica» – que começa com uma pergunta incómoda feita na rua por um desconhecido «Oiça lá: o senhor não está cansado de escrever crónicas?» tendo o autor respondido que não estava mas «quando estiver pode ficar descansado que eu aviso-o.» O homem era gerente bancário, tinha um filho desejoso de ser jornalista ou escritor e queria uma espécie de receita infalível mas Fernando Grade advertiu: «Não existem maneiras indiscutíveis de escrever boas crónicas. Não há assuntos que dêem para crónicas e outros que não sirvam. Tudo interessa mas depende de quem toca a guitarra… Percebe?» Pelos vistos o homem percebia mas não desistiu e obrigou o cronista a avançar: «O seu filho é que tem que descobrir o respectivo caminho, a sua própria verdade, saber o que mais lhe convém. Isso é um trabalho puramente pessoal. Se vou dizer-lhe para fazer assim, para fazer assado, posso muito bem estar a desviá-lo do seu autêntico filão.» Por fim deixa ao pai do miúdo um conselho genérico: «estar com os olhos bem abertos e não ser duro de ouvido.» É isso. --

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por José do Carmo Francisco às 08:35

Quinta-feira, 26.03.15

«requiem por auschwitz» de isabel aguiar

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Autora de poesia e de literatura infanto-juvenil, ensaísta e tradutora, Isabel Aguiar (que se estreou com «Sandálias do Tempo») mostra neste livro de poemas como se pode resumir toda a Vida e toda a Morte do Mundo em apenas 30 páginas. A Música dita erudita tem dado à nossa História muitos requiem (Mozart, Berlioz e Verdi são alguns) mas neste livro a música está nas palavras como na página 12: «São um requiem por Auschwitz os dedinhos de uma criança / trilhados na porta de um vagão.» Essa realidade não é o passado mas sim o presente como se lê na página 10: «Num cântaro azul / Vertem-se as lágrimas dos pais que ainda / Hoje perdem filhos em Auschwitz.» O poema, sendo a voz do poeta, não deixa de ser uma encomenda social invisível mas efectiva como se lê na página 14: «Os mortos de Auschwitz / Pedem um requiem / Enquanto plantam flores ao longo dos caminhos.» O poema levanta-se para proclamar «Que todos me Perdoem Exisitr depois de Auschwitz» depois de lembrar três nomes ligados a Auschwitz (Paul Celan, Etty Hillesum, Walter Benjamin) e de garantir - «Deus soluçava a milhas de distância no firmamento». Neste livro as páginas da História entram nos versos - «A Cruz Vermelha comunicou a morte de Etty Hillesum a 15 de Setembro de 1943 / O calendário mundial esburacou-se.» O livro, breve mas intenso, conclui-se ao afirmar que o poema é a voz das mães mais sós do Mundo: «Não tiveram direito nem aos calhaus / Sobre a pedra do Túmulo / As mães mais sós do mundo / As mães que não vimos / E por isso falamos na sua vez». Porque o poema assume a dor do Mundo e do Tempo: «Mães sem vida / Encalhadas as faces nos lugares impuros / Mães da desolação maior do mundo / A chorarem atrás dos muros com arame farpado / Farpas no meu coração.» (Editora Licorne, editoralicorne.blogspot.com) --

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por José do Carmo Francisco às 13:00

Quinta-feira, 26.03.15

herberto helder ou a feliz memória de um gesto altruísta

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Com a morte de Herberto Helder muita gente se tem chegado à frente, aparecendo com algum relevo na chamada Comunicação Social (rádio, TV, jornais) a debitar opiniões sobre a importância deste poeta na Literatura Portuguesa. Uma das pessoas que mais tem material guardado (entrevistas, depoimentos, notas de leitura) assinado por HH desde os tempos do «velho» Jornal de Letras dos anos 60 é o poeta Levi Condinho. Espero que alguém tenha o bom senso de o consultar quando se fizer um «dossier» a sério sobre a figura de HH. Pela minha parte venho contar uma história que é verdadeira e mostra o carácter altruísta de HH. Um dia na Livraria «1870» ali à Praça das Flores, enquanto com vagar preparava uma encomenda para o HH em Cascais, o meu amigo Romão contou-me a história do seu «salto em frente» como alfarrabista. Foi no tempo dos escudos e ele tinha apenas cem contos de réis como capital disponível. Um dia recebe um convite do HH para que visitasse uma senhora angolana com muitos livros de Antropologia, História, Etnografia e tudo o que se possa imaginar sobre Angola. Mas, depois de visitar a casa da senhora que tinha até livros nas escadas, Romão disse com toda a franqueza que não tinha capital para tão heterogénea e valiosa colecção. Explicou que só tinha cem contos, valor muito inferior ao preço real dos livros. Só que a senhora era amiga de HH desde os tempos de África e selou mesmo o negócio por aquela quantia. E lá foi o Romão com uma camioneta buscar os livros que lhe deram para viver durante dois anos. Tudo isto aconteceu pelo altruísmo do HH que tinha no Romão o seu agente em Lisboa. Pedia-lhe um livro por telefone e passado pouco tempo lá ia o Romão aos CTT das Cortes enviar a encomenda ficando à espera do vale de correio que HH lhe enviava dias depois. --

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por José do Carmo Francisco às 09:02

Quarta-feira, 25.03.15

subsídios para o 5 de outubro de 1910 - celestino steffanina

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Este livro de 2010 é a edição fac-similada do original de 1913 e foi escrito pelo seu autor para «restabelecer em alguns pontos a verdade em homenagem à História, deturpada tão leviana e tendenciosamente». Celestino Steffanina veio do Brasil com a ideia de «fazer qualquer coisa para que tivesse um termo a bandalheira em que o País se afundava» e o seu texto refere a acção de figuras como Ricardo Covões, Bernardino Machado, Afonso Costa, Alexandre Braga, João Chagas, Inocêncio Camacho, Eusébio Leão, José Relvas, Marinha de Campos, José Barbosa, António Maria da Silva, Cândido dos Reis e Brito Camacho: «um homem que não tendo nunca falado em barricadas, não tendo nunca alardeado valentias, esteve onde devia estar e fez o que devia fazer.» Enquanto Brito Camacho esteve na redacção de «A Luta» a redigir manifestos e avisos ao Povo, Celestino Steffanina deslocou-se com Malva do Vale de automóvel levando e trazendo notícias aos revoltosos entre a Rotunda e o Quartel de Marinheiros em Alcântara passando pelo Rossio e pela Baixa. Um aspecto curioso e que podia ter mudado o rumo do «5 de Outubro» é que segundo o tenente Celestino Soares o rei terá telefonado a Teixeira de Sousa dizendo: «Se estiver no Tejo o destroyer inglês que meta os navios no fundo!» Outro aspecto importante neste livro de 1913 reeditado agora, é a referência aos desgraçados que morreram heroicamente pelo seu ideal, para os feridos, para o Povo. A lista de 440 mortos e feridos com os seus nomes, moradas, razão e lugar da morte e localidades onde nasceram, não se lê sem um arrepio intenso, misto de comoção, de respeito e de homenagem. A República foi feita pelos nomes sonantes mas também pelos bravos de nome discreto e quase apagado, homens e mulheres cujo sangue ajudou a construir o sonho de todos os republicanos. (Edição: Fólio Exemplar – Apartado 40112, 1516-801 Lisboa) --

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por José do Carmo Francisco às 12:26

Terça-feira, 24.03.15

luiz pacheco - a villa anna no 674 da estrada de benfica

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«Eu já morei em quase toda a Lisboa» afirma Luiz Pacheco numa das páginas do livro «O espelho libertino», edição da Escrituras Editora de São Paulo (Brasil) em 2007. Mas de todos os lugares de Lisboa (incluindo o Pote de Água e a Buraca) o lugar que mais me interessa é este, o 674 da Estrada de Benfica onde ainda hoje (2015) se localizam a Villa Anna e a Villa Ventura, lugares mágicos que até motivaram um belo romance da Hélia Correia – «Villa Celeste». Mas entremos nas palavras de Luiz Pacheco sobre António Maria Lisboa: «O Lisboa era um espírito insubmisso. Eu dei-me mais com o Lisboa foi em Benfica, na Villa Anna, no Verão de 1950, antes de ele ir para Paris a primeira vez. Ele foi dormir lá a Benfica uma ou duas vezes. Lembro-me que íamos a pé às tantas da manhã, quando perdíamos o último carro do Arco do Cego para Benfica que era à uma e meia… Então íamos a pé por aí fora. A minha mulher, a Maria Helena e os miúdos estavam em casa dos meus pais em Bucelas, ao pé do moinho e eu ia dormir a Lisboa, em Benfica, por causa do clima húmido de Bucelas que me provocava grandes ataques de asma. Em Benfica era assim: de um lado a Villa Ventura e do outro a Villa Anna, o número 674, que era a casa dos meus avós, onde depois também foi viver, para o andar de cima, o meu tio e padrinho, o coronel Fernando António Gomes. Ainda lá estão as casas, eu julgava que não estavam mas ainda lá estão.» E eu vejo-as todos os dias quando vou aos CTT ou me encontro com a Isabel Aguiar. A entrevista de João Pedro George é de 2005 e o mais curioso é que as casas em 2015 ainda lá estão, é para dar razão à Hélia Correia que tem um livro com o título de «A casa eterna». E escreveu «Villa Celeste» mudando o nome como fazia o Fernando Pessoa porque o «patrão Vasques» do poema era, afinal, o Moitinho de Almeida. --

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por José do Carmo Francisco às 12:25

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