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Transporte Sentimental



Sábado, 28.02.15

«pra já para já» de vítor silva tavares

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Quarenta anos depois da edição original (Jornal do Fundão) o livreiro Pedro Oliveira (Sá da Costa) resgatou do esquecimento relativo esta plaquete de VST para o Natal de 1972. Acabado às 17h e 40m de 2-11-1972, com o título retirado das suas últimas palavras, este texto nasce no café Monte Carlos de uma ideia de VST: «decidi plaquetear os amigos, conhecidos e mais família». O autor apresenta-se deste modo: «À falta de melhor direi que sou um poeta – embora o texto não o comprove devidamente. Sou um poeta que não sabe escrever mas escreve o seu não saber». Dito de outra maneira: «Este texto, que não tem importância nenhuma, pode muito bem ser importante. Mais que não seja para mim. Estou vivo e escrevê-lo é importante. Escrevo também por terapêutica ocupacional». Frente ao autor está a realidade: «Cumpro a minha dose de realidade mas cumprir a realidade é uma coisa e cumprir a escrita outra». Entre o autor e a realidade surge a literatura: «com ou sem enredo toda a escrita é uma ficção – ou uma invenção com rédeas próprias. Também um espelho do autor ainda que poliédrico ou deformador como os das barracas de feira». Dito de outra maneira: «estou-me nas tintas para a literatura, ou melhor, para as belas-artes». A sua rejeição da sociedade como ela existia em 1972 vai mais longe: «prosperidades para a compra do aparelho de televisão e do pópó e dos discos contestatários e dos poster revolucionários e dos livros utilitários e dos outros produtos e objectos vários propostos activamente pelos nossos publicitários e seus mandatários». Por fim surge a relação entre o texto de 1972 e o mundo de 2012: «o eu-narrador exibe as contingências da sua impotência face ao garrote de uma situação política que ele julgava eternizar-se, qual era a do fascismo envolvente, que mesmo quando não matava à queima-roupa, moía até à morte macaca – a dignidade virada lixo». (Editora: Dois Dias, Desenho: Inês Botelho, Revisão: Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves) --

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por José do Carmo Francisco às 15:25

Sexta-feira, 27.02.15

joaquim vieira, os burros e a carroça da marcha de benfica

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Comprei um livro de Joaquim Vieira na Feira da Poesia e da Banda Desenhada em Campolide no passado sábado. O volume, editado pelo Círculo de Leitores e pela Temas e Debates tem o título de «Portugal Século XX – Crónica em Imagens» e diz respeito aos anos de 1900-1910. Na página 104 lá aparecem as datas da fundação dos Clubes: «o Boavista Foot-Ball Club em 1903, o Sport Lisboa e Benfica em 1904, o Sporting Clube de Portugal e o Futebol Clube do Porto em 1906». Na página 213 o erro repete-se na indicação «1904 – Fundação do Sport Lisboa e Benfica». Bastava conhecer e consultar o clássico «O sítio de Benfica e a tradição dominicana» de Artur Santa-Bárbara para chegar à verdade lendo o ano de 1908: «Um grupo de alunos da Casa Pia fundava no dia 28 de Fevereiro de 1904, com mais vinte e quatro amigos, o «Sport de Lisboa». Simultaneamente um grupo de rapazes, também dedicado ao desporto, tinha formado o «Sport Clube de Benfica». De um acordo entre as duas instituições resultaria a fundação do «Sport Lisboa e Benfica» no dia 13 de Setembro de 1908.» Qualquer amador de História sabe que só o documento escrito valida a verdade que se proclama. Irene Pimentel e Júlia Leitão de Barros colaboraram na pesquisa iconográfica deste livro de Joaquim Vieira e também o sabem porque são historiadoras muito competentes mas não podem saber tudo. A acta fundadora do SLB é de 13-9-1908 e antes dessa data o clube não existe. Há uma carroça da marcha de Benfica no espaço entre a Igreja e os CTT mas não sou eu que a vou empurrar. Haja alguém que se chegue à frente. Comigo não podem contar; eu faço parte daquele grupo do forte poema de Alexandre O ´Neill: «Você tem-me cavalgado, seu malvado / mas não me pôs a pensar como você / que uma coisa pensa o cavalo / outra quem está a montá-lo». --

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por José do Carmo Francisco às 08:57

Quinta-feira, 26.02.15

«a ambivalência do sagrado» de aurélio lopes

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Com o subtítulo de «Deuses e demónios nas terapias populares», este novo livro de Aurélio Lopes (n.1954) estuda o modo como o Povo Português viveu (e vive ainda hoje) no seu quotidiano a dupla inscrição de Deus e do Diabo. Por um lado Deus que o autor refere deste modo: «Pois se Deus é (por definição) bom, o Diabo (acredita-se) também não é mau.» A chamada astúcia popular existe e manifesta-se na frase «é preciso andar de bem com Deus e com o Diabo» ou também em «É preciso acender uma vela a Deus e outra ao Diabo». Mas, segundo o autor, o Diabo (ou Demo) «representa o contrapoder, a potestade marginal e obscura que se opõe aos poderes eclesiástico e temporal; o espírito rebelde, imoral e subversivo; o insensato que se opõe ao senso comum; o derradeiro socorro quando os outros se esgotam ou se mostram inacessíveis.» A este título tem muito de exemplar a situação vivida em 1870 quando o arcebispo de Braga soube da existência em Amarante de «um casal de Diabos» (ainda por cima fortemente sexualizados) e ordenou que fossem queimados por achar nefasta e escandalosa a convivência com os santos. Mas o prior limitou-se a mandá-los mutilar nos órgãos sexuais tendo eles passado a um canto da igreja até que o senhor Alberto Sandeman, cavalheiro inglês, prontamente os adquiriu por três libras de ouro, enviando-os para Londres onde fizeram furor. «Entretanto os amarantinos não se tinham conformado com a forçada emigração dos seus Diabos de estimação, clamando pela sua restituição. De tal forma que o então ministro dos Negócios Estrangeiros consegui que o senhor Sandeman devolvesse o casal de divindades , provocando o delírio nos amarantinos. Ao chegarem a Amarante , foram recebidos por Banda de Música, pelas entidades públicas, particulares e por uma multidão exuberante.» E conclui Aurélio Lopes: «este é um bom exemplo de devoção popular a diabolizadas potestades pré-cristãs perpetuando-se pontualmente através de tempos imemoriais até chegar, com particular vitalidade, aos nossos dias.» (Editora: Apenas Livros, Revisão: Luís Filipe Coelho, Direccão: Ana Paula Guimarães, Apoios: FCT, IELT e FCSH da Universidade Nova) --

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por José do Carmo Francisco às 14:27

Quinta-feira, 26.02.15

uma sardinha de lisboa para oleg basyuk

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Depois de Ruslam Botiev (da Mongólia) e de M. Nagashima (do Japão), o meu terceiro pintor estrangeiro de Lisboa é Olega Basyuk, um artista que veio da Ucrânia e vive no Chiado. Esta sardinha de Oleg Basyuk com a cidade de Lisboa dentro do seu perímetro representa um desejo de Sol bem ao lado do cansaço da chuva, do frio, do vento e da neblina matinal. Para quem chega da Ucrânia, tal como quem aparece aqui vindo da Mongólia ou do Japão, a cidade de Lisboa surge como um espaço atlântico e mediterrânico porque é, na Europa, o fim da terra e o princípio do mar. A imagem da sardinha assada no Verão da cidade não passa de um sonho neste tempo de Inverno prolongado com o benefício exclusivo para as albufeiras das barragens de Portugal. «Devia chover só de noite!» - costumo eu dizer a Olega Basyuk pois compreendo a sua tristeza perante as bátegas que se aproxima para cair no meu e seu miradouro de São Pedro de Alcântara. Ali, com o castelo de São Jorge em frente e com a Sé de Lisboa e o rio Tejo à direita, com a cidade das avenidas novas à esquerda, Olega Basyuk pinta Lisboa dentro de uma sardinha. Uma cidade - o mesmo é dizer suas casas, suas pedras, suas gentes que falam e se debruçam nas janelas apenas entreabertas porque continuam à espera do esplendor do Sol. Há nesta sardinha de Olega Basyuk a expressão viva de um tempo suspenso: a cidade de Lisboa espera em alvoroço a época luminosa da sardinha e do seu encontro com o fumo na festa colectiva no meio do arraial de cada Bairro. É uma alegria convocada por um artista que veio da Ucrânia, vive no Chiado e continua rendido à paisagem povoada da cidade que ele escolheu para colorir todos os dias nas suas ruas, praças e miradouros. --

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por José do Carmo Francisco às 08:41

Quarta-feira, 25.02.15

a «rolha do tanque» e o «fângio da agualva»

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A cena insólita parecia saída de um filme português dos anos 40 a preto e branco. Tipo «O pátio das cantigas» ou «A canção de Lisboa». Ou ainda «O feitiço do Império». Adiante. A mulher era muito pequenina e não chegava ao balcão mas picava o marido: «Vamos participar!». O marido, sonso, repetia o verbo antigo e de ressonância bolorenta: «Vamos participar!». Mas a menina do balcão do Hospital argumentava com um contacto telefónico estabelecido sem sucesso às 19 e 10 para saberem se o casal ainda vinha à consulta das 19 horas. Sem sucesso: o Fãngio da Agualva insistia na ideia de que a conduzir o carro não podia atender. Mas não passou o telemóvel à mulher. Entretanto já eram 19 e 20 tendo a médica ido à sua vida. Pois o casal continuava na sua, fingindo julgar que o Mundo à sua volta dependia de si, das suas acções e das suas palavras. O uso de «Vamos participar!» e do «carro» em vez de automóvel cheiram a velho. Por pouco as pessoas que foram obrigadas a aturar este casal (a rolha do tanque e o Fângio da Agualva) não ouviram outras palavras daquele tempo como papel selado, chefe de posto, cantina, tabanca ou selos fiscais. Afinal um mundo antigo no qual este casal estranho punha e dispunha das vontades dos outros que tinham o azar de viver perto da sua zona de influência. Entretanto chegaram as 19 e 25. Sempre a reclamar contra tudo e contra todos menos contra eles que chegaram 20 minutos mais tarde a uma consulta marcada para as 19 horas, o casal lá saiu zangado e a prometer vingança: «Vamos participar!». A mulher pequenina e o homem que não atende chamadas a conduzir e do alto do que julga ser a sua importância nem pensa que pode ser alguém do Hospital a perguntar se está perto. O casal perdido no tempo. A rolha do tanque e o Fângio da Agualva. Coitados… --

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por José do Carmo Francisco às 09:13

Terça-feira, 24.02.15

poesia e banda esdenhada em campolide

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Deve-se à paciência, capacidade e estoicismo de Inês Ramos (porosidade-eterea.blogspot.com) a organização semanal desta feira. Funciona aos sábados das dez da manhã às sete da tarde num palácio de Campolide na Rua Professor Sousa da Câmara nº 156. Lá encontrei o livro de Jaime Rocha «Mulher inclinada com cântaro» (editora Volta d´mar) e o meu «1983 – Um resumo» (editora O MIRANTE): o primeiro bem mais recente mas o meu editado no já distante ano de 1990. Além da inevitável Inês Ramos, a escritora que organiza a «Feira da Poesia e da Banda Desenhada», encontrei na tarde do dia 21-2-2015 mais dois poetas – M. Parissy e Pedro Silva Sena. O Pedro Silva Sena que é também um excelente tradutor de Poesia, ofereceu-me a edição recente da Revista «Di Versos», o seu número 20 com algumas traduções do poeta de Palma de Maiorca Gabriel Sampol. O M. Parissy não esperava encontrar-se comigo e por isso não trazia (nem eu levava) livros para a troca mas ficámos à conversa porque somos da mesma região e da Nazaré a Santa Catarina é quase um salto. A Geografia é mais importante do que a História – já muito antes tinha advertido o Poeta Vitorino Nemésio noutro contexto mas vem sempre a propósito. Recomendo esta semanal Feira da Poesia e da Banda Desenhada a todas as pessoas que, num país de analfabetos, ainda gostam de livros e de modo especial a três personalidades: Luís Alberto Ferreira, Joana Ruas e José Manuel de Vasconcelos. Os dois primeiros pela presença da Poesia de África e o terceiro porque pode até encontrar alguns livros seus nas mesas. O que torna especial esta Feira é que lá oferecem livros. Vi pessoas levarem volumes de autores como Maria Lamas, Stefan Zweig e Erskine Caldwell. Eu, por ser jornalista, recebi a edição especial de «O Comércio do Porto» de 4 de Agosto de 1980. Fixe! --

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por José do Carmo Francisco às 21:53

Terça-feira, 24.02.15

«minhas cartas nunca ecritas» de vergilio alberto vieira

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Vergílio Alberto Vieira (n. 1950), autor de vasta obra (poesia, ficção, teatro, diarística, literatura infanto-juvenil), surge nesta narrativa de 22 fragmentos com toda a sua bagagem de crítico literário – actividade que exerceu desde 1975 na revista África e nos jornais Diário de Lisboa, Jornal de Notícias e Expresso. Não por acaso o título do volume é um verso de Mário de Sá-Carneiro e surgem citações de autores como António Ramos Rosa, Luís de Camões, Camilo Pessanha, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e Ingborg Bachmann. E também Schöenberg. Embora as 22 referências de cada texto sejam as cartas do Tarot, o discurso é, sem dúvida, de autoficção - o que não significa autobiografia. O ponto de partida é o lugar e o tempo da infância. Do casamento dos pais («Passava o Verão, o ardente estio, quando por fim, a 11 de Agosto de 1949, meus pais casaram») ao seu tempo de criança: «Como não tinha irmãos e tanto me entristecia estar assim o tempo só, passei a dar comigo, eu sei lá: fora de mim, sentindo os pés presos à terra». A Guerra Colonial foi vivida em Angola: «Tenho pouco mais de vinte e já muitos vi agarrados às tripas, a correr em direcção a nada, enquanto iam disparando contra o esqueleto em altura dos prédios» e é apenas mais outra doença, como a doença da página 104: «Agora, 3 de Novembro de 1989, ela era a criança desses dias, nas mãos da equipa médica que removia o tumor na dorida garganta que a branca víbora escolhera». Entre o chão de víboras da guerra e a víbora da doença. O ponto de chegada é a noção de viagem de regresso de Lisboa a Braga: «Sou aquele a quem hoje, entre Santa Apolónia e a Estação do Oriente ocorre que nada vale adiar o instante em que ficámos sós».(…) «Adiante, já sobre a ponte de ferro com que a noite enlouquece os maquinistas pelo Vale de Santarém, o embaraço do velho com a lanterna junto à linha – Que horas são?» Dentro do Alfa Pendular, surge a moral da história: «Bem sei que, afinal, todos temos duas vidas – a que se esquece e a que nos esquece». (Editora: Papéis de Fumar, Capa: Adolf von Menzel, Prefácio: Ernesto Rodrigues) --

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por José do Carmo Francisco às 14:17

Domingo, 22.02.15

rodrigo no ccb e a minha memória magoada de antónio joão

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O António João era o maior admirador do Rodrigo, tinha todos os discos LP do Rodrigo, arranjou uma casa em Cascais para estar mais perto do Rodrigo e eu próprio só não fui apresentado ao Rodrigo pelos idos de 1974 porque me deito cedo. O António João, se fosse vivos seria mais um espectador na plateia do CCB, ele viria de Paris de propósito para ouvir e aplaudir o Rodrigo, ele era um admirador efectivo e afectivo em toda a linha. Hoje o António João é para mim uma memória magoada; descansa em paz no cemitério da Moita. O nosso conhecimento e amizade nasceram em 1966 quando, ao chegar a Dezembro, se percebeu que o «ordenança» que eu era não teria direito ao subsídio de Natal; tinha entrado em 9 de Setembro. O António João resolveu fazer uma recolha de fundos para juntar os 900 escudos que o BPA não me ia pagar. Deste modo, com paciência, com moedas de 5 e 10 escudos e notas de 20 escudos, ele juntou num envelope os 900 mil réis para o meu Natal. Nesse tempo era assim. No primeiro ano de trabalho as pessoas só tinham direito a 12 dias de férias. E outras coisas do género. Entretanto o António João foi incorporado no serviço militar e, em breve, mobilizado para a guerra colonial. Passei a receber os seus pontuais aerogramas com o registo quotidiano da sua guerra. Nem se podia dizer guerra; eram operações de pacificação. Continuámos sempre amigos. Ele era de Os Belenenses; eu sou do Sporting, ele foi jogador de andebol, eu fui e sou desportista de bancada, ele comentou desporto na televisão, eu escrevi em jornais desportivos desde 1979 a 2006. Mas sempre me lembro do António João com os discos autografados do Rodrigo. Eu sou fã do Rodrigo desde o fado sobre a última corrida de Salvaterra. Há pouco tempo aplaudi o Rodrigo num palco ao lado da igreja de São Roque. --

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por José do Carmo Francisco às 08:35

Sábado, 21.02.15

«uma noite em lisboa » de erich maria remarque

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A Livraria Fabula Urbis organiza um ciclo de palestras sobre a cidade de Lisboa na Literatura. Erich Maria Remarque (1898-1970) é o autor deste livro e não hesita em misturar alguma realidade na ficção. Quando em Paris um refugiado de guerra, prestes a morrer, oferece o seu passaporte ao protagonista, este pede a um «artista dos passaportes» que lhe coloque a sua foto no mesmo e a data de nascimento inscrita é a do próprio autor do livro: 22 de Junho de 1898. Numa Lisboa de 1942, a fervilhar de intriga e de negócios escuros, dois refugiados alemães encontram-se junto a um navio fundeado no Tejo e combinam uma estranha permuta: um deles oferece ao outro dois bilhetes para uma viagem marítima até New York a troco de uma noite de atenção para que lhe possa contar toda a sua história. Aceites os termos do contrato, os dois deambulam por alguns cafés, dancings e tabernas da cidade de Lisboa. Acabada a noite, acaba a história e o alemão que tinha ficado viúvo na tarde anterior, explica a sua decisão: não precisa dos dois passaportes pois vai para a Legião Estrangeira onde ninguém pergunta pelo passado. Um aspecto curioso do livro tem a ver com os jornais alemães. Setenta anos depois parece que nada mudou: «Os artigos de fundo eram uma vergonha. Arrogantes, cheios de mentiras, sequiosos de sangue. Falava-se numa Europa degenerada, traiçoeira, estúpida que não merecia outra coisa senão ser tomada pelos alemães. Simplesmente inacreditável!». (Editora: Publicações Europa-América, Tradução: Maria da Luz Mota Veiga) --

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por José do Carmo Francisco às 12:46

Sexta-feira, 20.02.15

«a palavraria» de francisco duarte mangas e maria err

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Os desenhos de Marie Err são bonitos, felizes e patuscos, um achado a acompanhar o sorriso que o texto de Francisco Duarte Mangas faz surgir nos leitores. O ponto de partida é uma conversa entre o narrador e o gato Karl. O primeiro dá ao segundo um conselho: «Ganha a vida a contar histórias. Vais de terra em terra, vendes imaginação.» O segundo recusa: «Eu não vendo imaginação.» Apesar de tudo, o negócio arranca quando o gato Karl diz: «Vou abrir uma palavraria» O mesmo será dizer abrir uma loja de lavar palavras. O gato avança embora o seu pressuposto esteja fora de moda: «a força da palavra mudará o mundo». O narrador adverte o gato: «Karl, tu ainda acreditas nisso?» Mas o gato está imparável e responde: «Nasci para fazer os outros felizes.» Porque ele é um gato diferente, obrigando os outros gatos a perguntar, murmurando: «Onde se viu gato amigo dos pássaros!» Karl é um gato diferente e recebe as visitas mais diferentes na sua «palavraria»: Rosa Luxemburgo e Herbert Marcuse, Amália Rodrigues e Matilde Rosa Araújo. Com Matilde o diálogo é vivo e parte de um passado triste («Para a tristeza não existe chá nem xarope») para sonhar um futuro feliz: «um dia inventaremos a vacina para a tristeza e para a saudade e todos os meninos até aos dois anos serão vacinados». A neve e a chuva vieram no Inverno e a «palavraria» fechou por um tempo mas o novo amigo de Karl (o cão Gorki, um simpático labrador) promete ser o fiel «segurança» da casa na Primavera que se aproxima. Recomendado a meninas e meninos com mais de oito anos, este é o nono livro de Francisco Duarte Mangas (entre originais seus e livros em co-autoria) na área da literatura infanto-juvenil, uma aventura que começou há anos com «O elefantezinho verde». Também autor de poesia e ficção, o seu primeiro livro («Diário de Link») recebeu o Prémio Carlos de Oliveira. (Editora: Caminho das Palavras, Capa: Marie Err) --

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por José do Carmo Francisco às 13:43

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