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Terça-feira, 08.10.13
«conhecer o mundo não é conhecer a vida»
Álamo Oliveira (n. 1945) é um autor multifacetado (ensaio, teatro, conto, romance, poesia) e este é o seu 37º título publicado desde 1968. Fundador, director e encenador do Grupo de Teatro Alpendre, a sua narrativa exibe uma marcação teatral afinada e uma carpintaria hábil sem esquecer o coro que anuncia a tragédia. Porque se trata de uma tragédia à qual poderia ter sido dado o título de «O pão, a culpa e a escrita» pois existem no enredo paralelo dos protagonistas (Professora Lucília e Padre Raul) o mesmo pão amargo, a mesma culpa profunda e a mesma escrita convergente apesar da geografia. Há um percurso comum aos dois heróis da narrativa: ambos vivem como pastores duma solidão que povoam de náufragos. Lucília afirma: «limito-me a gerir o medo de tudo o que acabou por acontecer: ficar sozinha e sem dinheiro». Padre Raul vive a sua solidão como o cálice do Jardim das Oliveiras: «estava cheio de medos da traição, do desamor, do desperdício, da morte». Lucília dá conversa a Márcio que estuda nos EUA com uma exígua bolsa de estudo; Padre Raul cruza-se com José Carlos que vive com os avós a quem rouba o que pode. Ambos são prostitutos e vendem o corpo a troco de pouca coisa (senha de refeições nos EUA, peças de roupa nos Açores) mas ambos vão roubar dinheiro para uma mota potente e veloz. O primeiro em dólares e o segundo em contos. Os dois heróis ganham a seu lado figuras de moderação. Nos EUA Lucília tem o amigo Jonathan («Desfaça-se desse puto») e nos Açores o Padre Raul tem o sacristão que o adverte: «o ladrãozinho de meia tijela nem se chama José Carlos». Os dois tempos da narrativa oscilam entre os EUA («A América peida-se e vende o mau cheiro como perfume») e os Açores: «O amor perdeu espiritualidade e ganhou orgasmo; o dinheiro perdeu honradez e ganhou violência. Os padres têm preferido esconder a cabeça na areia». Dito de outra maneira: «Americanos são os índios. O resto cabe no plural da palavra saqueador» nos EUA e «Havia mais escolas, hospitais, aeroportos, estradas, habitações e dinheiro, tráfico de droga, insucesso escolar e crimes» nos Açores. Comum também é a poesia de António Botto, lida por Jonathan na América e pelo Padre Raul na sua Ilha. Numa página surge a comovida memória do poeta Emanuel Félix, noutra a leitura do sismo de 1-1-1980 e algumas palavras locais (engronhava, pitafe, corsário, desbuntar, picaporte, rajado) que também são universais. Como universal é a sabedoria da avó: «Conhecer o mundo não é conhecer a vida. A vida alaga-se e seca-se em qualquer parte do mundo. É muito melhor imaginar o mundo do que conhecê-lo». (Editora: Letras Lavadas – PUBLIÇOR, Nota de contracapa: Luiz António Assis Brasil) José do Carmo Francisco --
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José do Carmo Francisco
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